domingo, 19 de outubro de 2008

A Discussão do Conceito de Qualidade no Contexto Televisual Britânico

O conceito de qualidade na televisão é polémico e controverso, pela razão de não existir uma definição clara e objectiva que agrade e esclareça todos os interessados nesta questão. Este assunto tem vindo a ser discutido pelo governo e pela sociedade britânica com base em três perspectivas distintas, mas complementares: produção de qualidade, importância da audiência e papel social da televisão.
Desde a criação da BBC (British Broadcasting Corporation - canal de serviço público), em 1936, que este conceito constitui uma preocupação no sector televisivo. Esta preocupação aumentou significativamente após o surgimento de um canal independente em 1955, ITV (Independent Television). Consequentemente, originou-se uma série de debates e relatórios, como é o caso do Relatório do Pilkington Comittee, onde foram enumeradas as principais funções da televisão: educar, entreter e informar, para além do dever de desafiar, transgredir e ser polémica para que possa ser discutida, dando-lhe, desta forma, a respectiva seriedade que lhe deveria ser inerente.
Em 1988, após o aparecimento dos canais BBC 2 (1964) e Channel 4 (1982), foi publicado o projecto de lei Broadcasting in the 90's: Competition, Choice and Quality, que destaca o fornecimento de programação regional, a exibição de programas de notícias de alta qualidade nos horários nobres e a escolha de uma programação variada que fosse atractiva aos diversos gostos e interesses como condições mínimas para uma televisão de qualidade.
É neste sentido que Mulgan e Dominique Wolton defendem a televisão generalista, uma televisão que procura satisfazer audiências distintas. Então, a qualidade da televisão estaria relacionada com a variedade de programas. Em contrapartida, a televisão segmentada restringe-se a um tipo de programa singular, que cada telespectador escolhe assistir, enfraquecendo assim a função de laço social da televisão, cuja função é apoiada por Wolton. Este tipo de televisão é defendido por Hoineff, que a refere como um meio estético, que veicula ideias e que entretém o seu público.
Como já foi referido, a questão de qualidade na televisão pode ser analisada a partir de três perspectivas:
Produção de Qualidade - Kerr defende que o elevado custo de produção é proporcional a uma produção de alta qualidade. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Mulgan e Brunsdon afirmam que o uso de actores conhecidos e adaptações de importantes textos literários e teatrais agregam qualidade ao programa. Esta visão é contrariada por outros autores, que dizem que os programas de televisão apresentam uma linguagem audiovisual própria, isto é, são pensados e realizados especialmente para este meio.
Importância e Papel da Audiência - Kerr define como programas de qualidade, aqueles que conseguem atrair uma audiência qualitativa (cultura de elite), em oposição ao consumo de massa (cultura popular), que tira o estatuto qualitativo de um programa. Esta teoria é apoiada por Robert Murdoch, que acusa os programas vistos pelas massas de serem comuns e vulgares, ou seja de má qualidade.
Papel Social da Televisão (veiculação de propostas culturais, socias, valores éticos) - Mulgan encara a televisão como um meio que deve promover o envolvimento de uma comunidade, criando uma experiência comum a todas as pessoas. Para Wolton, a televisão é vista como um espelho da sociedade, tendo uma função de laço social, unindo essa mesma sociedade, ao ter a capacidade de alcançar um grande público em diferentes zonas do planeta. Mephan acrescenta que a televisão deve veicular propostas culturais, sociais, incutidas de valores éticos, de forma a democratizar a sociedade. Para isto, defende que a qualidade está relacionada com a oferta de histórias úteis, com as quais os telespectadores possam reflectir sobre a sua própria vida. Isto implicaria que a TV abandonasse, parcialmente, as histórias tão comuns em que o bem ganha sempre. Tal abordagem não exclui, necessariamente, as vulgares banalidades que passam na televisão.

Rute Nobre
João Teixeira

1 comentário:

Anafinha disse...

Eu não sei até que ponto posso concordar com Kerr. Os programas com maiores audiencias são as telenovelas que em geral não têm muita qualidade. Mas a verdade é que mesmo estas têm vindo a melhorar. a minha questão é: não pode um programa de televisão com qualidade ser visto por uma grande audiência? Não será desvalorizar a inteligência da população ao presumir que o que esta vê é mau?
Devia ser dado algum crédito ao publico também, não os tomar por parvos.
Não sei. Ele nao ganharia umas eleiçoes lol
A